Candidato de raça
Se Obama ganhar, os Estados Unidos - país que há não mais que 50 anos ainda combatia a segregação racial no Sul - estarão a viver um momento para a história: a chegada do primeiro afro-americano à Casa Branca.
Barack Obama é percepcionado como um candidato negro e pode ser que, por isso, conte com o apoio dos brancos progressistas na presunção de que a sua presidência varrerá todos os pecados brancos cometidos da escravatura em diante.
Mas Obama não é descendente de escravos e a sua matriz cultural não tem nada em comum com a dos negros norte-americanos.
É filho de uma mãe ultraprogressista que rejeitou a sua identidade branca e os próprios Estados Unidos (preferiu a Indonésia) com opiniões moldadas na urbana e esquerdista Chicago.
Esquerdista e negro. Poderá ser a raça um factor decisivo nestas Presidenciais?
Em bom rigor, das opiniões que escuto, a maioria coincide em que pode não estar tudo - necessariamente - decidido. Por causa da raça.
Nas sondagens, Obama lidera com 5 a 8 pontos, mas o "factor raça" pode valer nas urnas menos 5, 6 pontos.
Ainda assim também se sugere que o "efeito Bradley" - quando, por receio de parecer racistas, os eleitores ocultam os preconceitos nas respostas às sondagens - não voltará a repetir-se, porque a sociedade mudou muito desde 1982, quando o candidato negro Bradley viu na California que, ao contrário das consultas de opinião, nas urnas venceu um candidato branco.
A sociedade mudou, há mais médicos, advogados, universitários negros. A campanha foi tão longa que o eleitor com preconceitos raciais já se terá habituado à figura de Obama.
Por aqui também se lembra que Truman percebeu melhor que ninguém a sociedade americana em 1948 e, por isso, ganhou contra todos os prognósticos.
Desta vez, Obama poderá ter feito a leitura correcta do mosaico social de 2008, mais multicultural, mais plural.
Faltará saber se a leitura que a sociedade norte-americana fará na próxima terça-feira é coincidente com a do senador negro, mas a verdade é que ninguém garante que a raça não seja "o factor" destas eleições.
José Bastos, nos Estados Unidos
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